Poderíamos casar. Teríamos um apartamento, tomaríamos café
as cinco da tarde, discordaríamos quanto a cor das cortinas, não arrumaríamos a
cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados e coca-cola. O
armário de porcarias. Adiaríamos o despertador umas trinta vezes, sentaríamos
na sala de pijama e pantufas, sairíamos pra jantar em dia de chuva e
chegaríamos encharcados, nos beijaríamos no meio de alguma frase, você pegaria
no sono com a mão no meu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria sem
motivo e você perguntaria porque, eu não responderia, saberíamos.
[Caio Fernando Abreu]
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